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O Caráter Cristão (2ª Parte)

O Caráter Cristão (2ª Parte)

Peter Amsterdam

 (Este artigo se baseia em trechos do livro The Practice of Godliness, por Jerry Bridges.[1])

Tornar-se mais como Jesus demanda devoção a Deus, a qual tem sua raiz em nossa reverência a Deus e no nosso entendimento do Seu amor por nós enquanto indivíduos. Ter Deus como centro de nossas vidas nos coloca na posição de construirmos um caráter semelhante ao de Cristo. Nosso amor por Deus e nossa dedicação a Ele abre a porta para o Espírito Santo transformar nosso caráter, para desenvolver o fruto do Espírito: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Em adição a essa lista específica, todos os outros traços de caráter que as Escrituras atribuem à santidade podem ser vistos como frutos do Espírito, tais como humildade, compaixão, gratidão, contentamento, dentre outros.

Se por um lado pode ser vista como um desafio a necessidade de manifestação desses frutos, devemos entender que nosso crescimento nessas áreas resulta da obra do Espírito Santo em nós. Obviamente, isso não significa que Ele faz todo o trabalho e que estamos isentos da responsabilidade pelo desenvolvimento do caráter cristão. É preciso estarmos abertos e cooperar com o Espírito Santo, além de fazermos o que nos cabe para crescermos em semelhança a Cristo pela orientação e empoderamento do Espírito. Não nos tornamos como Cristo sem a obra do Seu Espírito em nós.

Nossa devoção a Deus deve ser o que nos leva a viver de forma que O agrade. É o que se revela na história de José, no Antigo Testamento, quando não cedeu às investidas da esposa de Potifar para o seduzir. A recusou não foi por medo de ser descoberto por seu mestre e sofrer as consequências, como revela sua declaração: Como, pois, posso cometer este tão grande mal, e pecar contra Deus?[2]

O que nos leva a fazer algo deve se basear na devoção a Deus. O apóstolo Paulo escreveu: Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.[3]

Pela permanência em Cristo, desenvolvemos um caráter íntegro e nos tornamos mais como Jesus. O poder para essa transformação nos é externo. Devemos necessariamente nos conectar à fonte — Jesus — e nos manter conectados a Ele, ligados a Ele e à Sua Palavra, em comunhão com Ele pela oração e devoção.

Responsabilidade e dependência

Apesar de o poder para termos o caráter cristão vir de Cristo, é nossa a responsabilidade de desenvolver e a demonstrar esse caráter. A Bíblia nos diz: Aparta-te do mal, e faze o bem; procura a paz, e segue-a;[4] segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão;[5] exercita-te a ti mesmo na piedade;[6] vivamos neste presente século sóbria, justa e piedosamente.[7] Apesar de podermos buscar no Senhor a graça e o poder para nos tornarmos mais semelhantes a Cristo, não podemos simplesmente deixar por conta dEle e achar que é Sua a responsabilidade de tornar nossas vidas santificadas. Cabe-nos investir nisso uma dose de esforço; na verdade, uma grande medida de esforço.

De certa forma, nossa transformação depende totalmente do Espírito do Senhor, mas, ao mesmo tempo, temos a responsabilidade de fazer o que nos cabe para tornar isso possível. Somos chamados a realizar a busca ativa da vontade moral de Deus, a nos devotar a Ele, a fazer tudo ao nosso alcance para desenvolver o caráter cristão, para vivermos adequadamente e nos alinharmos com os ensinamentos das Escrituras, enquanto, ao mesmo tempo, dependemos do Senhor para nos transformarmos à Sua imagem pelo poder do Espírito Santo.[8]

Tornar-se mais como o Cristo não é uma questão de personalidade ou temperamento, mas de buscar crescer, com a ajuda do Espírito de Deus, em todas as áreas do caráter cristão. Todos temos aspectos de nossa personalidade que se alinham, em diferentes graus, com os traços do caráter cristão. Algumas pessoas são naturalmente generosas, abnegadas, pacientes, etc.; mas mesmo nessas áreas, o Espírito de Deus nos provoca a ir além e crescer, muitas vezes pelo enfrentamento de desafios que exigem mais de nós, a dar o passo a mais ou a andar a milha extra. Além disso, há também os frutos do Espírito que contrariam nossa personalidade e, portanto, demandam um esforço maior.

Independentemente de quais atributos que remetem ao caráter cristão nos sejam mais fáceis e naturais, todos precisamos melhorar no que diz respeito à manifestação dos frutos do Espírito. Todos enfrentamos desafios no que tange à demonstração dos frutos do Espírito em nossas vidas. Se algum dos dons do Espírito não nos forem naturais, não basta dizer: “Eu sou assim.” O princípio de aprender e aplicar o que se aprende é que cada um é responsável pela exibição de todos os traços do caráter cristão de forma equilibrada. Alguns deles são de mais difícil cultivo que outros e exibem de nós mais oração e atenção, que é parte da formação necessária para nos assemelharmos ao Cristo.

Tornarmo-nos mais como Cristo, desenvolvendo o caráter cristão é progressivo. Por mais que cresçamos, sempre haverá espaço para melhorias e progressos. Como os atletas que têm de treinar regularmente para preservar o progresso alcançado, devemos continuar crescendo em santidade; se não continuarmos progredindo, regrediremos. Quer estejamos conscientes, quer não, as decisões que tomamos regularmente e os hábitos que cultivamos constroem nosso caráter. Referindo-se aos falsos professores, o apóstolo Pedro escreveu: Têm um coração exercitado na ganância.[9]

A implicação de que podemos nos exercitar não apenas para a santidade, mas também para a impiedade.

Para desenvolver o caráter cristão é preciso entender a relação íntima entre conduta e caráter. Quando repetimos uma ação (boa ou má) várias vezes, ela se torna habitual, parte de quem somos e do nosso caráter, o qual, por sua vez, determinará nossas ações. A pessoa altruísta, por exemplo, apresenta maior propensão a ajudar alguém em necessidade, pois seu caráter faz com que ela aja generosamente. Entretanto, se formos egoístas por natureza e estivermos nos exercitando para superar o egoísmo, vamos nos esforçar para buscar maneiras de ajudar quem precisa e quanto mais o fizermos, mais natural esse atributo se tornará em nosso caráter. Tornamo-nos naquilo que fazemos; fazemos o que somos. Nossa conduta sempre alimenta nosso caráter, o qual, por sua vez sempre alimenta nossa conduta. É muito importante que exercitemos a santidade diariamente, tanto em conduta como em caráter.

Expectativas razoáveis

Tornar-se mais como Cristo é um processo que exige compromisso e determinação, mas também precisa da poderosa intervenção do Espírito Santo em nossas vidas. Há tantos traços do caráter cristão abordados nas Escrituras, que não seria realista sequer tentar discutir todos ao mesmo tempo. A formação do caráter demora, tanto no que diz respeito ao “revestir-se” dos traços bons quanto ao “despir-se” dos ruins. Por onde começar é algo que deve ser considerado em oração, buscando-se o Senhor para saber, pela Sua Palavra e pela orientação do Seu Espírito, quais as áreas às quais Ele deseja que você dê atenção em um dado momento e quando é melhor se concentrar em outro traço do caráter cristão. Permita que o Espírito de Deus o guie nisso.

Não conte com maravilhas da noite para o dia. Crescer e mudar demora. Assuma o compromisso de desenvolver o caráter cristão em sua vida e se tornar mais como Jesus. Então, trabalhe em harmonia com o Espírito, orando por orientação e forças para continuar no caminho da santificação em suas crenças, ações, comportamento e caráter. Faça sua parte e ice suas velas, para que o sopro de Deus o leve na direção de uma maior semelhança ao Cristo.

Se quiser mais artigos de Peter Amsterdam, visite o Espaço dos Diretores.


Notas de rodapé

[1] A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.

[2] Gênesis 39:9.

[3] 1 Coríntios 10:31.

[4] Salmo 34:14.

[5] 1 Timóteo 6:11.

[6] 1 Timóteo 4:7.

[7] Tito 2:12.

[8] 2 Coríntios 3:18 NVI.

[9] 2 Pedro 2:14.